Rash Cutâneo Tardio na terapêutica com Lamotrigina – A Propósito de um Caso Clínico Raquel Ribeiro*; Alda Rosa**; Teresa Maia*** R e s u m o : O uso de Lamotrigina na Doença Bipolar está
de largo espectro da classe das fenotiazinas, cujo
a p rovado desde 2003 pela F.D.A. O r a s h é o
mecanismo de acção nos pacientes com Doença
efeito secundário mais comumente encontrado e
Bipolar se prende com a inibição da libertação de
é um motivo frequente de descontinuação do
glutamato através da inibição dos canais de sódio
tratamento. Têm sido descritos casos raros de
e potássio dos neurónios presinápticos e a
consequente estabilização da membrana neu-
revêem-se os dados existentes na literatura,
ronal. A eficácia da LMG no tratamento da
respeitantes à utilização de Lamotrigina em
Doença Bipolar em adultos foi investigada em 10
doentes bipolares dando-se principal enfoque ao
estudos randomizados, contra placebo e dupla-
rash, particularizando ainda alguns aspectos do
rash com surgimento tardio, de que é exemplo ocaso apresentado.
A LMG foi aprovada pela US FDA, em Junho de
P a l a v r a s - c h a v e : Lamotrigina; Doença Bipolar;
2003, no tratamento de manutenção, isto é, na
R a s h; R a s h de início tard i o .
p revenção de descompensações de adultos bipo-l a res tipo I que tenham sido tratados na fase
A B S T R A C T:
aguda com terapêutica standard7. Record a m o s
The use of lamotrigine in Bipolar Disorder has
também que dados provenientes de 2 estudos3 , 6
been approved by the F.D.A since 2003. Rash is
sugeriram que a LMG tem uso, embora limitado,
the more frequent adverse effect related to the
no tratamento de manutenção de cicladores rápi-
reatment with Lamotrigine and in several
dos, quer sejam bipolares I ou II pelo que, em
cases is the cause for discontinuation of me-
caso de necessidade, o seu uso é re c o m e n d a d o
dical treatment. The less frequent related cases
como uma alternativa ao Lítio ou ao Va l p roato de
of rash are the late onset ones. About aw o m e n ’s case with a late onset of rash, werevised the clinical use of Lamotrigine in
O fármaco não foi aprovado no tratamento agudo
Bipolar Disorder published bibliography which
dos episódios afectivos bipolares pois não re v e-
is followed by a special focus in the rash itself
lou eficácia superior ao placebo na maioria dos
and finally we present some particular issues
e s t u d o s4 , 5 , 6, embora em dois deles se tenha
demonstrado eficaz no tratamento da Doença
K ey Wo rd s : Lamotrigine; Bipolar disord e r ;
B i p o l a r4 , 5. Embora a LMG não esteja apro v a d a
pela FDA no tratamento agudo dos episódiosafectivos bipolares, é actualmente re c o m e n d a d a
REVISÃO DO USO DE LAMOTRIGINA
pelas guidelines (com confiança clínica modera-
EM DOENTES BIPOLARES:
da) como opção de primeira linha no tratamento
A Lamotrigina (LMG) é um fármaco antiepiléptico
agudo de pacientes com depressão bipolar, e
12 • Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca
* Interna do Internato Complementar de Psiquiatria: Serviço de Psiquatria doHospital Fernando Fonseca. ** Assistente Hospitalar: Serviço de Psiquatria do Hospital Fernando Fonseca. Rash Cutâneo Tardio na terapêutica com Lamotrigina – A Propósito de um Caso Clínico
como terapia aguda adjuvante (com confiança
Geralmente, o rash grave ou severo ocorre nas
clínica substancial) naqueles tendo depre s s ã o
seis primeiras semanas de tratamento, ocasional-
b i p o l a r, não respondem à terapêutica inicial-
mente até às 12 semanas e muito raramente
depois disso1 8. Têm sido descritos casos isoladosde rash após longos períodos de tratamento1 9. LAMOTRIGINA - EFEITOS ADVERSOS DESCRITOS:
C a l a b rese e colegas procuraram descrever as
Os efeitos adversos da LMG são geralmente de
principais características de um rash benigno,
gravidade ligeira a moderada, sendo mais comuns
a cefaleia (19%), náusea (14%), infecção (13%),
• Atinge um pico dentro de dias e resolve em
e insónia (10%). Foi ainda relatada diarreia em
7% dos casos e tremor em 4% dos casos10.
• Pequenas manchas não confluentes e não
Apesar da prevalência de rash em estudos
aleatórios de doentes bipolares não ser superior à
• Não se faz acompanhar de sintomas sistémicos
encontrada com o placebo, o rash é considerado
o efeito secundário mais frequente deste fárm a-
(leucograma, função hepática e renal e urina II).
c o1 1. A sua incidência tem sido estimada entre1,7% e 39%1 2 - 1 6, sendo na sua grande maioria rash
Por outro lado apontam as seguintes característi-
l i g e i ros. No entanto, estão também descritas
reacções cutâneas severas ligadas à LMG (em
estudos realizados com doentes epilépticos),
tendo sido relatados casos de Síndrome de Steven-
• Envolvimento proeminente do pescoço e tronco
Johnson, Necrólise Epidérmica Tóxica e Síndro m e
• Qualquer envolvimento dos olhos, lábios,
Os estudos realizados na Doença Bipolar (contro-
lados e não controlados) mostram que a incidên-
• Febre, mal-estar, faringite, anorexia e linfade-
cia de rash severo em pacientes tratados com LMG
é de 0.1% (três casos entre 2272 doentes estuda-
d o s )7 incluindo um caso de Síndrome de Steven-
(leucograma, função renal e hepática, urina II).
Johnson ocorrido num doente que fazia a LMGcomo fármaco adjuvante1 7.
Tem sido proposto que o rash associado à LMGc o rresponda na maioria das vezes a reaçcões de
CARACTERISTICAS DO R A S H:
hipersensibilidade tardia, que ocorrem nas
Um rash que surja nos cinco primeiros dias de te-
primeiras 2-3 semanas de tratamento e que se
rapêutica provavelmente não terá uma causa re l a-
resolvem com a suspensão do fárm a c o2 0. Outro
aspecto que apoia a hipótese da existência de um
Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca • 13
*** Assistente Graduada: Directora do Serviço de Psiquatria do Hospital FernandoFonseca. Raquel Ribeiro, Alda Rosa, Teresa Maia
mecanismo imunológico subjacente, são os sin-
medicação com Carbamazepina (ou outra dro g a
tomas gripais, a linfadenopatia e a eosinofilia que
indutora de enzima) deve iniciar a LMG com 50
mg/d, e ir titulando quinzenalmente com aumen-tos graduais da dose do fármaco até atingir os
MANEJO CLINICO DO R A S H:
Foram identificados factores de risco para oa p a recimento do rash incluindo uma dose inicial
rece existir alguma controvérsia quanto ao
e uma taxa de titulação do fármaco acima das
manejo clínico do r a s h havendo alguns autore s
recomendações, bem como a coadministração
que advogam que caso surja um r a s h isolado e
com o valpro a t o2 1 , 2 2. Como factores de risco
benigno, a dose de LMG não deve ser aumentada
minor para o surgimento de rash severo foram
ou deve ser mesmo reduzida até o rash re s o l v e r,
apontados a comorbilidade com o Vírus da
a d v e rtindo o doente para a necessidade de con-
Imunodeficiência Adquirida e Lúpus Eritematoso
tactar o seu médico caso surjam novos sintomas.
Sistémico, corticoterapia à data de início do fár-
No entanto os mesmos autores ressalvam que se
maco e a existência de história familiar de r a s h
t r a t a r, logo de início, de um r a s h s e v e ro então a
d roga deve ser imediatamente suspensa e deveráp ro c e d e r-se ao despiste de um eventual envolvi-
É agora reconhecida a importância de uma titu-
mento sistémico1 1. Por outro lado, outros autore s
lação inicial lenta do fármaco para minimizar o
defendem que a LMG deve ser descontinuada ao
risco do rash severo. Com esta medida, a taxa de
p r i m e i ro sinal de r a s h (excepto se este não esti-
rash severo diminuiu enquanto que a taxa de r a s h
ver claramente relacionado com o fármaco) por
l i g e i ro se manteve2 6. Assim, para minimizar o
f o rma a minimizar o risco de r a s h s e v e ro (uma
risco de rash severo, as directrizes de pre s c r i ç ã o
vez que não é possível determinar realmente se
de Lamotrigina nos EUA incluem re c o m e n d a ç õ e s
um tipo ligeiro vai evoluir para severo )1 9.
No que respeita à re i n t rodução do fármaco após
Em pacientes com Doença Bipolar que não fazem
suspensão, por aparecimento de r a s h l i g e i ro ,
p reconiza-se actualmente que esta só se re a l i z e
recomendada é de 25mg/d (primeira e segunda
quando a análise risco-benefício o justificar e
semanas), 50mg/d (terceira e quarta semanas),
desde que o doente possa estar vigiado de pert o
100mg/d na quinta semana e 200mg na sexta
de forma a poder procurar o médico de imedia-
semana. Caso esteja a ser administrado valpro a t o
to, na eventualidade de surgir algum sinal de
a dose inicial de LMG deve ser a mesma mas pre-
hipersensibilidade. A re i n t rodução deve ser ini-
scrita em dias alternados, procedendo-se depois
ciada com 5-12.5 mg/d de LMG em monoterapia
à subida gradual da dose, cada 15 dias, até à dose
e a titulação deve ser muito lenta. Estão docu-
final de 100mg. Por fim, se estiver a cumprir
mentados alguns casos em que a re i n t rodução do
14 • Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca Rash Cutâneo Tardio na terapêutica com Lamotrigina – A Propósito de um Caso Clínico
f á rmaco foi conseguida com sucesso2 7 , 2 8. Se o
pescoço, pelo que a doente por sua iniciativa sus-
r a s h que motivou a descontinuação da terapêuti-
ca for severo não deve ser equacionada, de novo,
Olanzapina 10mg/d; ocorreu a remissão total do
rash em poucos dias.Quinze dias depois do r a s h
Seguidamente, apresenta-se um caso de r a s h t a r-
estar resolvido a própria doente re i n t roduziu a
LMG na dose de 25 mg/d, suspendendo-a no 2ºdia de terapêutica após o re s s u rgimento do r a s hCASO CLÍNICO:
com a mesma localização e características.
Doente X, sexo feminino, 42 anos, com o dia-
Actualmente a doente encontra-se medicada com
gnóstico de Doença Bipolar I e com antecedentes
de vários episódios depressivos e hipomaníacos,agravados nos últimos dois anos, em que nunca
D I S C U S S Ã O :
esteve eutímica. Após intoxicação medicamentosa
Neste caso, a ausência de doença cutânea prévia
voluntária, em 1996, foi medicada com Va l p ro a t o
e o facto do r a s h ter remitido após a interru p ç ã o
de sódio e com antidepressivo, não havendo
da medicação, permitem concluir que o r a s h é
reacção cutânea aos fármacos. Em Junho de 2003
um efeito secundário da LMG. A manifestação do
fez episódio maníaco com ideias delirantes asso-
rash, no que se re f e re à localização e ao tipo de
lesão, confere-lhe características de severidade.
Psiquiatria e suspensa a medicação anterior. Émedicada com Olanzapina 10mg/d e Lamotrigina
A erupção cutânea teve início ao fim de oito
100mg/d (faz titulação lenta conforme as
meses de tratamento pelo que se torna um caso
recomendações actuais). Já em ambulatório,
r a ro. Parece realmente tratar-se de uma re a ç ã o
duas semanas depois, procedeu-se à subida da
de hipersensibilidade tardia pois quando se pro-
LMG para 200mg/d. A doente esteve compensada
cedeu à re i n t roduçao do fármaco, e apesar de
até Abril de 2004, altura em que surgiram lesões
esta ser feita com uma dose reduzida e já anteri-
cutâneas tipo pústula (nódulos averm e l h a d o s
o rmente tolerada, o rash re s s u rgiu na Doente. X.
com colecção purulenta), dolorosas e pru r i g i-
A exacerbação do rash ocorrida em Agosto e o
nosas, dispersas na face, no pescoço e re g i ã o
tipo de localização em zonas mais expostas à luz
superior do tronco. Foi excluída outra patologia
solar (pescoço e face), pode estar re l a c i o n a d a
ou introdução de novos fármacos. A doente
com uma insolação - aspecto já descrito noutro s
negou febre. A dose de LMG foi reduzida para
casos 2 9. A re i n t rodução do fármaco após suspen-
100mg/d, constatando-se uma diminuição do
são da toma, foi realizada por iniciativa da
n ú m e ro de lesões mas mantendo algumas
Doente. X (sem o conhecimento do seu médico
remanescentes com iguais caracteristicas.
assistente) e resultou no re s s u rgimento do r a s h.
Durante as férias, em Agosto 2004, ocorreu uma
Pensamos que esta re i n t rodução foi con-
nova exacerbação do r a s h, sobretudo na face e
t r a p ruducente atendendo ao tipo de rash (com
Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca • 15 Raquel Ribeiro, Alda Rosa, Teresa Maia
características de severidade) e salientamos o
guideline for the treatment of patients with bipolar di-
facto de ter sido feita com uma dose inicial de
rder (revision). Am J Psychiatry Apr; 159 (4
25mg i.e acima da dose de LMG re c o m e n d a d a
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Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca • 17
Bangladesh Med Res Counc Bull 2010; 36: 100-103 obesity was significantly more in women than men (P=0.001), but the prevalence of overweight has inversely related to the gender (P=0.013). The LETTERS TO THE EDITOR prevalence of obesity and overweight were markedly more in urban area than in rural area Obesity in the north of Iran (South-East of the Caspian Sea) Table I: The m
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