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PROPSICO – CLÍNICA DE PSICOLOGIA
Psicologia Clínica e Consultoria Empresarial
Rua Vergueiro 3086, cj 64, Vila Mariana Tel.: (11) 3854-9591 / 8493-6660 www.propsico.psc.br [email protected] PROZAC, A PÍLULA DA FELICIDADE.

FELICIDADE NA DOSE CERTA? - Anna Moore
Em 1971, quando foi desenvolvido a LY110141, a substância que se tornou o Prozac, a depressão raramente era discutida e os antidepressivos se restringiam em geral às clínicas psiquiátricas. As pessoas iam ao médico por causa de “ansiedade’ e “nervosismo’. Tranqüilizantes como o Valium eram a resposta mais provável. A Eli Lilly, companhia farmacêutica que produziu o Prozac, de início viu um futuro totalmente diferente para sua nova droga. Primeiro foi testada para o tratamento de pressão alta e funcionou em alguns animais, mas não em seres humanos. O Plano B era um agente contra obesidade, mas também não foi aprovado. Quando testada em pacientes psicóticos e hospitalizados com depressão, a LY110141, então chamada de fluoxetina, não apresentou claros benefícios, e diversos pacientes pioraram. A Eli Lilly a testou em depressivos brandos. Cinco recrutas a experimentaram e todos ficaram mais animados. Em 1999, o medicamento já respondia por mais de 25% do faturamento de 10 bilhões de dólares do laboratório. A fluoxetina foi entregue à Interbrand, maior companhia mundial de branding (Sony, Microsoft, Nikon, Nintendo), para ganhar uma identidade. O nome Prozac foi escolhido por seu impacto. Soava positivo, profissional, rápido, eficaz. Ele foi comercializado como uma fórmula fácil de prescrever, “uma pílula, uma dose para todos”, e chegou quando a classe médica e a mídia estavam inundadas por histórias horríveis sobre a dependência de Valium. O Prozac atingiu uma sociedade que estava no clima certo para ele. Campanhas nacionais (apoiadas pela Eli Lilly) alertaram os médicos e o público para os perigos da depressão. A Eli Lilly financiou 8 milhões de folhetos (“Depressão: o que você precisa saber”) e 200 mil cartazes. Os antidepressivos anteriores eram altamente tóxicos, letais em doses excessivas e tinham outro efeitos colaterais negativos. O Prozac foi lançado como totalmente seguro, podia ser receitado para qualquer um. Era a droga maravilhosa, a resposta fácil, o reanimador instantâneo, o eldorado neurológico. Quando chegou o dia do lançamento, os pacientes já o pediam pelo nome. Vinte anos depois, o Prozac continua sendo o antidepressivo mais amplamente usado na história, prescrito para 54 milhões de indivíduos em todo o mundo, e muitos acham que devem a vida a ela. É receitado contra depressão, distúrbio obsessivo-compulsivo, síndrome do pânico, distúrbios alimentares e transtorno disfórico pré-menstrual (antes, conhecido com TPM). Estranhamente, a depressão atingiu níveis epidêmicos. O dinheiro e o sucesso não servem de proteção: escritores, a realeza, astros do rock, top models, atores, executivos, todos a tiveram. Estudos sugerem que, nos Estados Unidos, a depressão mais que duplicou entre 1991 e 2001. No Reino Unido, estima-se que uma em cada seis pessoas a experimenta. E custa mais de 9 bilhões de libras (cerca de 36 bilhões de reais) por ano em tratamentos, benefícios e receitas cessantes. Enquanto isso, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão deverá ser o segundo problema médico mundial até 2020, perdendo apenas para as doenças cardíacas. A serotonina não era bem conhecida 20 anos atrás. Hoje, se você perguntar à pessoa sentada a seu lado o que é, ela lhe dirá que está ligada à felicidade, que seus níveis são baixos nas pessoas deprimidas, que o Prozac os faz aumentar, assim como o chocolate ou a aeróbica, talvez a ioga. Mas isso não é totalmente verdade, ou já foi contestado muitas vezes. E ainda precisa ser provado. Segundo David Healy, professor de psiquiatria na Universidade de Cardiff e autor de Let Them Eat Prozac (Que Comam Prozac), é puro “bioblablablá” que substituiu o “psico-blablablá” dos anos 1960 e 1970. Healy passou uma década estudante o neuro-transmissor serotonina em deprimidos e encontrou poucas evidências que sustentem a teoria do “desequilíbrio químico”. “A idéia foi divulgada nos anos 1960, e o homem por trás dela, George Ashcroft, mais tarde se retratou”, diz Healy. “Nos anos 1960 e 1970, foi considerada uma idéia simplista. Hoje é vista como muito conveniente, parece tão clara. Há alguma coisa em você que está baixa e precisa ser consertada. Tomar uma droga o deixa mais feliz” (Vejam Brooke Shields, que descreveu como “reconfortante” descobrir que a depressão pós-parto estava “diretamente ligada a uma alteração bioquímica”). O Prozac é um inibidor seletivo de reabsorção de serotonina (ISRS). Os antigos antidepressivos tricíclicos (ADTs) atuavam sobre três neurotransmissores associados ao humor ou estado de espírito (serotonina, dopamina e noradrenalina), enquanto o Prozac concentra-se em apenas um: a serotonina. “A idéia de que foi um grande avanço o Prozac selecionar apenas a serotonina é pura hipótese”, diz Malcolm Lader, professor de psicofarmacologia clínica no Instituto de Psiquiatria da Grã-Bretanha. A teoria de que as emoções são regidas pelos níveis de serotonina é altamente simplista e funciona igualmente bem no sentido oposto (isso é, nossas emoções e nossos níveis de estresse alteram a química do cérebro, portanto é no mínimo uma rua de mão dupla). Outros fatores importantes que contribuem para a depressão incluem a experiência de vida, o histórico familiar, os hormônios e a dieta. No entanto, a teoria freqüentemente repetida do “desequilíbrio químico” (o defeito não está em nós, mas em nossos preciosos fluidos corpóreos) é promovida nos websites de companhias farmacêuticas e na publicidade. Chega o Prozac líquido com sabor de hortelã. Nos Estados Unidos, pesquisa de companhias farmacêuticas descobriu que, entre 1995 e 1999, o uso de drogas semelhantes ao Prozac por crianças de 7 a 12 anos aumentou 151%, e entre as menores de 6 anos, 580%. Em 2004, as crianças de 5 anos ou menos foram o segmento de maior crescimento no uso de antidepressivos na população não adulta dos EUA. O “mutismo seletivo” (medo de falar em situações sociais) é um problema comum em pré-escolares, que tem sido tratado com Prozac. Nos EUA, os ISRSs, incluindo o Prozac, hoje trazem uma “caixa-preta” de advertência de que as drogas podem aumentar o comportamento suicida em crianças. Acredita-se que, em conseqüência disso, sua prescrição esteja diminuindo nos dois países. Romain Pizzi, especialista em medicina zoológica e de animais silvestres no Real Colégio de Cirurgiões Veterinários (RCVS), lembra que prescreveu Prozac para Mercedes, o urso polar do zoológico de Edimburgo. “Não podemos dizer que seja ´depressão´ (o que o urso sofria), mas é um comportamento anormal, um mecanismos de animais mantidos fora do habitat natural”, diz Pizzi. Os papagaios de estimação também estão recebendo antidepressivos, porque são aves altamente inteligentes, que se automutilam quando entediadas, enquanto gatos e cães podem sofrer estresse ou ansiedade da separação. “Um cachorro não pdoe sentar no sofá e discutir suas preocupações, mas pode uivar pela casa, correr atrás do rabo ou mastigar tudo”, diz Mark Johnton, um especialista em pequenos animais no RCVS. Quando o treinamento e a modificação de comportamento não têm eficácia, cerca de um em cada dez pacientes animais recebe antidepressivos. O Reconcile é uma nova versão do Prozac com sabor de carne, destinada aos cães. “As drogas podem parecer drásticas, mas, literalmente, podem salvar a vida deles”, diz Johnston. “Se você tem um cachorro que é constantemente agressivo, você não vai agüentar muito tempo. A última opção é a eutanásia.” O alto consumo de Prozac por celebridades fez das ISRSs a droga dos anos 1990, a bolsa Fendi farmacêutica. Se antes as celebridades tentavam esconder sua depressão, a era do Prozac ajudou a eliminar o estigma. A depressão quase faz parte do ofício. Espera-se que as celebridades a sofram de alguma fora, e preferivelmente escrevam sobre ela numa autobiografia, falem a respeito ou sejam tratadas em clínicas para dependência de antidepressivos no Arizona. E seus vidros vazios de Prozac podem ser colecionados como arte pop. Há muito tempo correm rumores de que o Prozac ajuda a perder peso. Louise, 44 anos, de Kent, teve a droga prescrita para tratar depressão, mas continuou tomando por mais tempo que o necessário, quando descobriu que ela diminuía o apetite. “Era uma espécie de sensação suave de cocaína, uma coisa meio anfetamina, acelerada”, diz ela. “Eu não sentia fome e estava sempre fazendo coisas. Perdi quase 15 quilos. Minha irmã comprou o remédio na web, quando viu o que ele fez comigo.” As Brazilian Diet Pills (pílulas de dieta brasileiras), amplamente encontradas na internet, contêm fluoxetina, o ingrediente ativo do Prozac. Nos EUA, hoje alguns médicos prescrevem Prozac para tratar obesidade, embora não tenha sido aprovado para esse fim. A empresa de emagrecimento Nutrisystem também lançou um programa de dieta, “Phen-Pro”, uma combinação de Phentermine e Prozac, apesar das fortes reservas da Eli Lilly. Na verdade, os testes sugerem que o Prozac pode causar uma perda de peso média a curto prazo de até 3,3 quilos em pacientes obesos. No entanto, ele também foi associado ao aumento de peso depois que passa a falta de apetite inicial. (Louise tem hoje o mesmo peso que antes de tomá-lo.) A disfunção sexual revelou-se um dos efeitos ocultos do Prozac. Sarah, uma estilista, de 36 anos, de Londres, que toma Prozac contra ataques de pânico, teve uma experiência bastante típica. “Ele me curou e me acalmou, mas eu não tive um orgasmo desde o dia em que comecei”, ela diz. “Ainda tenho vontade abraçar e beijar, mas fora isso não sinto a menor excitação física. Nada. Meu parceiro não consegue decidir qual ele prefere. A neurótica e chorona que ainda gosta de sexo algumas vezes por semana ou a calma e composta que é completamente frígida.” As implicações vão além do mero sexo. Segundo Helen Fisher, antropóloga e autora de Why We Love; The Nature and Chemistry of Romantic Love (Por que amamos: A natureza e a química do amor romântico), os ISRSs podem impedir seriamente a capacidade de apaixonar-se e seguir apaixonado. A felicidade que sentimos quando estamos amando, aquela alegria, estimulação e ligeira insanidade são conseqüência dos altos níveis de dopamina. Os ISRSs aumentam a serotonina e reduzem a dopamina. O resultado é a sensação antiamor, um “tanto faz” satisfeito e não discriminatório. Embora testes iniciais identifiquem a disfunção sexual em menos de 30% dos casos, o número geralmente aceito hoje é de mais de 60% e um estudo recente o situa em 98. Com 54 milhões de usuários de Prozac em todo o mundo, é muita disfunção sexual. Os sintomas incluem redução ou ausência de libido, retardo ou ausência de orgasmo, impotência ou redução do volume de sêmen e menos lubrificação vaginal. O Prozac foi insistentemente acusado de poder levar ao suicídio, não apenas depressivos, mas também voluntários saudáveis. Alguns usuários de ISRS relataram agitação e incapacidade de manter-se imóveis, uma preocupação com fantasias violentas, autodestrutivas, e uma sensação de que “a morte seria bem-vinda”. Na Alemanha, o Prozac teve a licença inicialmente recusada depois que testes resultaram em 16 tentativas de suicídio, duas das quais Os ISRSs estiveram centenas de vezes nos tribunais. O primeiro grande caso foi em l989, quando Joseph Wesbecker entrou na gráfica Standard Gravure em Louisville, Kentucky, com um fuzil AK 47 e matou oito empregados, e depois a si próprio. Wesbecker estava tomando o recém-licenciado Prozac havia menos de um mês e tornara-se muito agitado. As famílias dos mortos processaram a Eli Lilly, mas aceitaram um acordo não divulgado. David Healy, que depôs como testemunha perita contra a Eli Lilly e a SmithKline, estima que os ISRSs podem produzir idéias suicidas em um de cada 500 usuários.

Source: http://www.propsico.psc.br/PDF/Felizdose.pdf

Lessons with logos: the debate over corporate sponsorships

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