HDSInForum Destacável Científico | HDSInForma nº 25 | Bimestral | Dezembro 2008 Tratamento Farmacológico da Obesidade Drª Ana Maria Coquim Campolargo*
*Interna do Ano Comum 2008, trabalho realizado no âmbito
Directora do Serviço de Medicina III: Dr.ª Margarida Cabrita
abdominal reflectida numa diminuição do perímetro
Obesidade e síndroma metabólico
abdominal e da gordura visceral, um controlo dometabolismo glicémico mais eficaz, que se reflecte
Apesar das várias instituições, como a
nos níveis de glicose em jejum e na sensibilidade
Organização Mundial de Saúde (OMS) ou a
à insulina, uma melhoria da dislipidémia,
Federação Internacional da Diabetes, terem cada
demonstrada pelos níveis de colesterol HDL e
uma a sua definição própria de síndroma
triglicerídeos e uma redução da pressão arterial.
metabólico, é consensual que este seja composto
por 4 componentes fundamentais: disfunção do
da realização de 30-60 minutos de exercício de
metabolismo da glicose (estados pré-diabéticos
intensidade moderada na maioria dos dias da
como alterações da glicose em jejum e intolerância
semana e à redução da ingestão calórica de
à glicose), dislipidémia (hipertrigliceridémia e baixos
aproximadamente 500 Kcal. A eficácia do exercício
níveis de colesterol HDL), hipertensão arterial
físico e da restrição calórica é inequívoca no
tratamento do síndroma metabólico. Contudo,
devemos ter consciência que a promoção destas
depende da definição adoptada, estimando-se
mudanças de estilo de vida é muito difícil na
contudo que atinja, nos EUA, cerca de ¼ da
população, sendo particularmente prevalente emidades mais avançadas. Obesidade e seu tratamento
aumenta o risco de doença cardiovascular,
diabetes tipo 2 (DM-2) e mortalidade, são
pela OMS, um componente essencial do síndroma
necessárias medidas para prevenir e tratar esta
metabólico. Actualmente, segundo algumas
patologia. Assim, as organizações de saúde
instituições, a sua presença é considerada até
indispensável para o seu diagnóstico.
base da terapêutica, a implementação de
Ao longo dos anos, vários métodos foram
alterações no estilo de vida, dando particular
usados para definir obesidade (razão cinta-anca,
importância ao exercício e restrição calórica.
perímetro abdominal) mas actualmente o índice
de vida incluindo exercício físico regular e restrição
frequentemente usado. Segundo a OMS, excesso
calórica levam a uma melhoria da obesidade
de peso é definido por um IMC e” 25 kg/m2 e
obesidade por um IMC e” 30 kg/m2. Todavia, osriscos do excesso de gordura corporal para a
Tratamento Farmacológico da Obesidade
saúde aumentam a partir dos 20 a 22 kg/m2.
O “National Institute for Health and Clinical
apenas um problema estético. De facto, é uma
condição que tem consequências graves na saúde
associada às mudanças de estilo de vida em
(patologia cardiovascular, DM-2, HTA, dislipidémia,
situações específicas: obesos e indivíduos com
excesso de peso com IMC >27 e com pelo menos
uma comorbilidade associada. Os fármacos
comorbilidades, uma causa importantes de morte.
actualmente disponíveis no mercado europeu são
Por outro lado, a obesidade é uma patologia que
o orlistat, a sibutramina e o rimonabant; apenas
diminui consideravelmente a qualidade de vida dos
os dois primeiros estão disponíveis no mercado
doentes e que aumenta significativamente os
português. O Rimonabant já foi aprovado pela
custos dos cuidados de saúde. Todos estes
União Europeia em 2008 e deverá estar disponível
factores reforçam a necessidade de prevenção e
tratamento eficazes desta condição.
Como já foi referido, as mudanças no estilo
de vida são a base do processo terapêutico, sendo
obesidade, como a atomoxetina, agonistas dos
receptores da serotonina subtipo-selectivos,
bloqueadores do neuropeptídeo Y, leptina e
Orlistat
Inibidor da lipase Redução ponderal: 2,9%. Fezes oleosas/gordurosas;Urgênciagástrica e
Redução da PAS, da PAD, Urgência fecal;
do colesterol LDL e da glicose “Spotting” oleoso (15-30%); em jejum em diabéticos Incontinência fecal (7%);
Sibutramina Inibidor seletivo da Redução ponderal: 4,6%. Insónias; recaptação da Acção incerta sobre os Náuseas; serotonina Rimonabant Ligando CB-1 Redução ponderal: 5-10%. Depressão e outros efeitos selectivo Aumenta a sensibilidade psiquiátricos; (Cannabis sativa).
esteatose e melhora a Tonturas; dislipidémia. Diarreia; Insónias. Quadro 1 – Fármacos actualmente disponíveis para o tratamento da obesidade.
implementação destas medidas. A terapêutica
agonistas dos receptores da leptina; alguns deles
farmacológica pode ser uma alternativa em casos
já usados para o tratamento de outras patologias.
específicos embora as armas terapêuticas de quedispomos hoje em dia são ainda limitadas. Nos
Orlistat
casos em que as medidas já referidas não sãosuficientes, a cirurgia bariátrica pode ser proposta.
1998. É um derivado parcialmente hidratado de
medidas disponíveis devemos ter em conta que
lipestatina endógena produzida pelo Streptomyces
uma perda de peso de 5-10% é suficiente para
toxytricini. É um inibidor da lipase gástrica e
uma redução significativa do risco de doença
pancreática que reduz em 30% a absorção de
gorduras da dieta. Tem uma absorção sistémica
reduzida e sofre um metabolismo de primeira
disritmias. Assim sendo, não está recomendado
passagem, apresentando uma biodisponibilidade
em doentes com HTA não controlada, taquicardia
de 1%. De facto, a maioria do fármaco é
ou doença cardiovascular previamente conhecida.
O tratamento concomitante com inibidores da
Com o Orlistat, verifica-se uma redução
monoamina-oxidase e fármacos serotoninérgicos
ponderal de 2,9%. Leva ainda a uma redução de
1,8 e 1,6mmHg da pressão arterial sistólica e dadiastólica, respectivamente. Também o colesterol
Rimonabant
LDL é reduzido em 0,27 mmol/l e a glicose emjejum em indivíduos diabéticos, diminui 0,8 mmol
potente, retirado da planta Cannabis sativa, cujos
Os efeitos adversos mais significativos do
efeitos como modificadores do humor são bem
Orlistat são gastrointestinais, sobretudo quando
conhecidos. É metabolizado no fígado e excretado
a dieta é rica em gordura. Assim, temos fezes
oleosas/gordurosas, urgência fecal e “spotting”
oleoso em 15-30% dos doentes e incontinência
registada foi de cerca de 5-10%. Graças às suas
fecal em 7%. Os efeitos secundários sistémicos
acções no hipotálamo, tronco cerebral, centros
deste fármaco são muito reduzidos, dada a sua
mesolímbicos e nervo vago, estimula a anorexia,
potencia sinais de saciedade e diminui a motivação
para a ingestão de alimentos “apelativos”,
outros fármacos, observa-se uma redução da
provocando uma redução ponderal. Ao aumentar
absorção da amiodarona e da ciclosporina e uma
o consumo de glicose pelo musculo e impedindo
potenciação do efeito da varfarina.
a lipogénese de novo no fígado, aumenta asensibilidade à insulina, reduz a esteatose e
Sibutramina
melhora a dislipidémia. É geralmente bem toleradotendo como efeitos secundários mais comuns as
náuseas, as tonturas, a diarreia e as insónias.
como antidepressivo, tendo sido aprovada pela
Tem igualmente efeitos psiquiátricos cujo mais
União Europeia como terapêutica anti-obesidade
frequente é a depressão. É de notar que estas
em 1999. A sua acção mais importante é a de
reacções adversas levam à interrupção da
terapêutica em 13-16% dos doentes (6-7% por
termogénese, sendo esta acção no entanto
considerada pouco relevante na redução ponderal.
Este fármaco sofre um extenso efeito de 1ª
Europeia em 2006 mas não é recomendada a
passagem a nível hepático pelo citocromo P450,
activando assim dois metabolitos mais potentes
possibilidade de alterações neurológicas e
do que o composto inicial. A maior parte do
psiquiátricas, relacionadas com aumento na taxa
fármaco e dos seus metabolitos são excretados
Que fármaco e quando?
registada foi de 4,6%. Em estudos a longo prazoa Sibutramina mostrou ter pouca ou nenhuma
acção na concentração de colesterol LDL e no
no tratamento da obesidade, a fase seguinte
controlo glicémico. Tem uma acção incerta sobre
consiste em escolher o fármaco adequado à
os valores de triglicerídeos e colesterol HDL. Os
situação do doente e a altura ideal para o introduzir.
efeitos secundários da Sibutramina são insónias,
Antes da terapêutica farmacológica deve ser
náuseas, boca seca e obstipação. Foi também
tentado o tratamento recorrendo às medidas
associada a um aumento da pressão arterial e
gerais anteriormente mencionadas, para as quais
da frequência cardíaca, o que leva a preocupações
a motivação do doente é essencial. Uma vez
que estas medidas se tornam frequentemente
insuficientes pode recorrer-se às terapêuticas
farmacológica e cirúrgica. A terapêutica
tratamento e as possíveis consequências de um
farmacológica quando iniciada precocemente pode
prevenir muitas das consequências da obesidade
Uma vez escolhido o fármaco, é essencial
já referidas. A terapêutica cirúrgica está apenas
a escolha do momento certo para iniciar a
indicada num número limitado de doentes, sendo
a terapêutica farmacológica mais abrangente.
A maioria das “guidelines” existentes define
algumas situações em que a terapêutica
isoladamente eficaz no tratamento da obesidade.
farmacológica da obesidade parece estar indicada.
Assim, é essencial a associação de mudanças
Deste modo, devemos considerar: 1) As situações
permanentes no estilo de vida à farmacoterapia.
em que houve falha das medidas errados é
importante desmistificar tanto a patologia como
em conta algumas características. Em primeiro
lugar temos que estabelecer os objectivos da
Depois de iniciar a farmacoterapia, coloca-
terapêutica. Geralmente obtemos uma perda
se a questão da sua duração. Não existem ainda
ponderal de 5-10% do peso inicial, com qualquer
estudos que permitam dar uma resposta concreta
a este ponto. Para já a duração aconselhada é
adequadamente associada a mudanças do estilo
de 1 a 2 anos. Contudo, verifica-se numa grande
de vida (10-20% de doentes não respondem à
terapêutica, situação que se pode verificar 4-8
ponderal após a interrupção do tratamento, assim
como uma perda dos benefícios relacionados com
A perda ponderal não é o único objectivo
as consequências da obesidade. Levanta-se por
da terapêutica farmacológica na obesidade. De
isso a questão dos benefícios eventuais de um
acompanhar-se de outros efeitos benéficos para
prolongamento do tratamento para além dos 2
a saúde dos indivíduos, como o controlo glicémico
anos deverá ser feito com consentimento do
(Orlistat e Rimonabant), a redução do colesterol
doente e exige um seguimento rigoroso. Porém,
LDL e triglicerídeos e aumento do colesterol HDL
a interrupção demasiado precoce da terapêutica
deve evitar-se, sendo aconselhado um período
fármacos disponíveis é eficaz na redução da HTA.
de 6 meses antes de considerar a terapêutica
devemos ter em conta igualmente os efeitos
mais prevalente e o seu tratamento é um dos
maiores desafios do futuro. Reforça-se uma vez
mais a importância das mudanças no estilo de
satisfação e adesão do doente são essenciais
vida na prevenção e controlo desta doença,
para a obtenção de resultados satisfatórios. Isto
apesar das outras hipóteses terapêuticas
é ainda mais importante na obesidade dado que
disponíveis. A farmacoterapia na obesidade é, de
uma parte crucial do tratamento se baseia em
facto uma área de investigação activa e prolífera
mudanças no estilo de vida, associadas à toma
cuja evolução trará sem dúvida desenvolvimentos
regular da medicação. A adaptação do tratamento
significativos no tratamento desta patologia.
ao estilo de vida do indivíduo pode ser a chavede um sucesso terapêutico. Referências Bibliográficas:
especiais que incluem as mulheres grávidas ou
Peter M. Janiszewski, Travis J. Saunders, Robert
Ross. Themed review: Lifestyle Treatment of the
fármacos anti-obesidade estão contra-indicados
Metabolic Syndrome. Am J Lifestyle Med. 2008; 2(2):99-
e as crianças, adolescentes ou idosos, em que o
Royce P. Vincent, Carel W. le Roux, MSc, Charles P.
seu uso deve ser extremamente cuidadoso.
Veja. New Agents in Development for the Management
of Obesity. Int J Clin Pract 61(12): 2103-2112, 2007
só para o paciente mas também para o sistema
M. Lean. A. Mullan. Obesity: Which Drug and When?
Journal of Hospital Infection (2004) 57, 202–208Molecular biology of extended-spectrum b -lactamase-producing Enterobacteriaceaeresponsible for digestive tract colonizationN. Moustaouia, A. Soukrib, N. Elmdaghria,c, M. Boudoumad,M. Benbachira,c,*aMicrobiology laboratory, IbnRochd University Hospital, Casablanca, MoroccobFaculte´ des Sciences AinChock, Casablanca, MoroccocFaculte´ de M
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