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História de uma Prostituta
Capítulo 1
“Veja aqui querida,” dizia Ginginet, estendido sobre os veludos de cor de mijo do sofá, “você não canta mal, você é graciosa, tem um entendi-mento de cena, mas ainda não é bem isso. Me escute meu bem, é um velho cabotino, um des-prezado do interior e do estrangeiro quem te fala, um velho lobo do palco tão irme nos teatros de feira quanto um marinheiro no mar, veja só! Você ainda não é suicientemente canalha! Isso virá, amoreco, mas você ainda não dá de um jeito su-icientemente sensual o movimento dos quadris que precisa apimentar o ‘bum’ do bumbo. Veja, tenho as pernas arqueadas como duas tenazes, os braços como cepas de vinha, abro a goela como a rã do tonneau1, mas marco mil pontos com es-ses discos de chumbo. Vlam! O címbalo bate, ponho tudo para funcionar, faço gargarejo com um trinado fracassado e empunho o público. É o necessário. Vamos, cuspa teu refrão e eu te ensinarei, enquanto você o canta, as nuances a observar. Um, dois, três, atenção, o papai abre seu tubo auricular, o papai te escuta.” “Senhorita Marthe, aqui está a carta que a garota na bilheteria me pediu para lhe dar,” disse, puxando o ‘r’, uma garota gorda e de nariz arrebitado.
“Oh, isso é realmente bom, é realmente!” a garota exclamou. “Veja, Ginginet, o que acabei de receber, mas não é muito educado, ou é?” O comediante desdobrou o papel e os cantos de sua boca subiram quase até as narinas, revelan-do a gengiva avermelhada e rachando a máscara de maquiagem e estuque que cobria seu rosto.
“Está em verso!” gritou, visivelmente alarma- do. “Em outras palavras, esse homem não tem um tostão. Um homem de bem não envia ver-sos!” O resto da trupe havia se amontoado ao re- dor dessa conversa. Naquela noite fazia um frio polar, os bastidores com suas correntes de ar eram glaciais; todos os histriões se apertavam em frente a um fogo de carvão ardendo na lareira.
“E aí, o que diz?” falou uma atriz em um ves- “Escutem, escutem,” disse Ginginet; e ele leu, em meio à atenção geral, o seguinte soneto: Um pife pia e silva com voz seca,Um baixo é fanho e um velho vai com dorCuspir num trombone seu interior.
Zumbe um violino feito rabeca,
Um lajolé dispnéico alto impreca,Um pistão ranzinza, um bumbo dá cor.
Barril é o maestro sem tirar nem pôr,Escrofuloso, feio sem que impeça
Mulher mais apta à arena da afeição,A orquestra do teatro – e entrementes,Que tu meu só amor, só fruição, Bramas às noites sujos ritornelos,D’alma os lábios, cega, braços pendentes,Sorrindo aos vadios, rainha dos belos! 2 E não estava nem sequer assinado!“Isso sim, Ginginet, é o que eu chamo de ser fiel ao maestro dessa orquestra: seria pre-ciso lhe mostrar esses ‘versos’, isso o deixaria colérico, aquele violeiro!” “Vamos lá senhoras, em cena,” gritou um senhor de chapéu negro e um casaco azul do tipo macfarlane; “a seus postos, a orquestra está começando!” casaco sobre seus ombros nus, seguidas to-das agitadas pelos homens que interrompiam seus cachimbos ou suas partidas de jogo de bezigue e, em pares, foram em fila à portinha que dava acesso aos bastidores.
O bombeiro de serviço estava em seu posto e, ainda que meio morto de frio, uma chama lhe ardia nos olhos ao observar a parte debaixo das saias de algumas dançarinas que haviam icado em sua revista. O diretor de palco soou os três golpes e a cortina subiu lentamente, descobrindo uma sala repleta de gente.
Sem dúvida, o espetáculo mais interessante não estava em cena, mas na sala. O teatro Bobi-no3, conhecido como “Bobinche”, não che- gava de forma alguma a icar repleto, como os de Montparnasse, de Grenelle e outros bairros antigos, onde operários queriam escutar seria-mente uma peça. Bobino tinha por clientela os estudantes e os artistas, a raça mais barulhenta e zombeteira que existe. Eles não vinham a essa choça, atapetada com desagradável papel amaran-tino, para se pasmarem com melodramas pesados ou comédias extravagantes; eles vinham para gri- tar, rir, interromper a peça – se divertir enim! Mal a cortina se levantou e os zurros começaram; mas Ginginet não era um homem que se perturbasse com tão pouco, sua longa carreira dramática o havia acostumado à algazarra e às vaias. Ele sau-dava graciosamente aqueles que o interrompiam, conversava com eles, entremeando seu papel com piadas dirigidas aos que berravam: logo se fez aplaudir. Mas a peça ia razoavelmente mal, ela mancava desde a segunda cena. A sala recomeça-va a se agitar. O que a deleitou foi sobretudo a entrada de uma atriz enorme cujo nariz marina-va num lago de gordura. A tirada ejaculada pelo botoque dessa cuba humana foi escandida à força de “rataplan, plan, plan”. A pobre mulher estava estupefata e não sabia se icava ou fugia. Marthe apareceu: a algazarra cessou.
Estava charmosa com o vestido que ela mes- ma havia recortado de blocos de tecidos ondea-dos de seda. Um corselete rosado, costurado com bijuterias, sim, um corselete de um rosa delicado, desse rosa esmaecido e como que inspirado nas fazendas do Levantino, cerrava suas ancas mal contidas em sua prisão de seda; com sua cabeleira suntuosamente vermelha, e seus lábios que titila-vam, úmidos, vorazes, vermelhos; ela encantava, irresistivelmente sedutora! Os dois mais intrépidos anunciantes, que se alternavam da orquestra à galeria, tinham ces-sado seus gritos de: “Chaveiro! A segurança das chaves! Cinco centavos!” e “Um centavo! Or-chata, limonada, cerveja!” Sustentada pelo ponto e por Ginginet, Marthe foi aplaudida com todo o exagero. Quando sua romança foi vertida, o zunzum retomou furiosamente. O pintor que se assentava nas estalas embaixo e o estudante com blusão de marinheiro vermelho que se aninhava no alto, na galeria, se esganiçavam burlando, em chocarrices e brincadeiras, para a grande alegria dos espectadores a quem a peça entediava mor-talmente.
Encostada próxima de uma das vigas do basti- dor, Marthe observava a sala e se perguntava qual desses jovens poderia ter lhe endereçado a carta, mas todos os olhos estavam apontados para ela, todos lamejando em honra de seu colo: era-lhe impossível descobrir entre todos esses admira-dores aquele que lhe havia enviado o soneto.
A cortina caiu sem que sua curiosidade fosse Na noite seguinte, os atores estavam de mau humor; eles aguardavam um novo alarido e o di-retor, que preenchia também as funções de dire-tor de cena, dada a ausência de fundos, passeava febrilmente pelo cenário, esperando que o pano de boca se levantasse.
Sentiu-se subitamente tocado no ombro e, virando-se, viu-se face à face com um jovem que lhe apertou a mão e, muito calmo, disse: “As coisas ainda vão bem?”“Mas. mas sim. nada mal. e o senhor?”“Vou levando, eu lhe agradeço. Agora por fa- vor vamos no entender: o senhor não me conhece, nem eu ao senhor. Muito bem! Sou jornalista e tenho a intenção de escrever um maravilhoso ar-tigo sobre o seu teatro.” “Ah! Encantado, ico deleitado, certamente! “Na Revista Mensal.”“Não a conheço. E quando aparece?”“Geralmente todos os meses.” “Enim. sente-se então.”“Eu lhe agradeço, mas não quero tomar o seu E ele se foi ao saguão onde tagarelavam os Era um homem hábil, esse que veio! Ele disse uma palavra amável a um, uma palavra amável a outro, prometeu a todo mundo um artigo gra- cioso, e a Marthe sobretudo, que ele itava com um olhar tão guloso que ela não teve diiculdade de adivinhar que era ele o autor da carta.
Ele retornou nos dias seguintes, e lhe fez a corte. Em suma, conseguiu arrebatá-la até sua casa uma noite.
Ginginet, que vigiava a astúcia do homem, en- trou numa sanha furiosa que ele extravasou, em abundância, no seio de Bourdeau, seu colega e amigo.
Os dois estavam sentados à mesa num cabaré da pior aparência imaginável, para beber meio li-tro juntos. Para falar a verdade, preciso dizer que Ginginet estava meio vermelho, desde o almoço, gargalaçando um tinto dos mais vivos; ele ingia ter dunas na garganta que ele irrigava com grande vagas de vinho; pendia sua cabeça sobre a mesa, molhava seu nariz no copo e, sem se dirigir a seu companheiro que dormitava, mais bêbado que ele talvez, arrotava um monólogo pontilhado e retalhado por uma série de sobressaltos e soluços.
“Besta, a pequena, muito besta, superior- mente besta. Ah! Ora sim! Conseguir um amante está bom se ele for rico; é melhor, sem isso, icar com o velho focinho de Ginginet – não é bonito, é verdade – Ginginet não é jovem, também isso é verdade. Mas é artista! Artista! Ela prefere um namoradinho que faz versos! Ofício de morto de fome! É claro, como minha voz – mas não esta noite, por exemplo, estou rouco de bêbado – isso tudo me lembra aquela canção que eu cantava no Amboise4 quando eu era o primeiro tenor no grande teatro, minha glória passada, qual! A canção de “minha mulher e meu guarda-chuva”. Eram bestas, de resto, essas tiradas! Como se uma boneca e um guarda-chuva não fossem a mesma coisa! Os dois te deixam na mão quando o tempo piora! Eh! Bourdeau, escute, eu te dizia que eu era como um pai para ela, um pai nobre que a deixava bater o olho nos jovens ricos; mas nos pobres, nesses pés rapados, como isso, blééé! Maldição! Então eu me torno o pai sério,” e, toca-do às lágrimas, Ginginet acentuava seu solilóquio com um vigoroso golpe de punho na mesa, que fazia encrespar o vinho em seu copo e salpicava sua velha máscara descascada com grandes gotas vermelhas.
“Lá fora chuva, e aqui dentro, choro,” prosseguia ele, “boa-noite e obrigado pela com-panhia, vou me deitar. Eh! Bourdeau, eh! Nada disso! Acorde, é teu camarada quem te chama! Esse que costumava cantar em outros tempos no Amboise, não sei mais qual ária. Ah! Pelo amor de Deus! Que peito, que grave eu tinha então! Tristeza das tristezas. Dizer que tudo isso foi em-bora com meus cabelos! E você, moleque,” ele gritou ao garçom, “aqui está a grana, conte, há dois litros e meio para pagar, vamos lá cavalhei-ros! E quanto aos burgueses, que vão para o in-ferno!” E dizendo isso, puxou Bourdeau pelo braço, que arava com os sapatos, cantava feito rouxinol pelo nariz, estufava o ventre, bamboleava como um urso amestrado e cantava do topo de sua voz o elogio dos vinhos soisticados e das mulheres

Source: http://ldopa.com.br/wp-content/uploads/2012/07/Marthe-Huysmans-para-ler-no-site.pdf

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